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Como alcançar a transição ecológica pós pandemia?

Atualizado: 3 de jan. de 2021



Muitos estudiosos têm visto o novo coronavírus como uma reação e um contra-ataque da Terra e da própria natureza, contra todas as mudanças causadas pelo homem. Leonardo Boff é doutor em teologia pela Universidade de Munique. Foi professor de teologia sistemática e ecumênica com os Franciscanos em Petrópolis e depois professor de ética, filosofia da religião e de ecologia filosófica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e  argumenta arduamente por uma transição ecológica, conforme síntese de algumas entrevistas e artigos publicados (links ao final).

A Terra viva, Gaia, um superorganismo que articula todos fatores para continuar viva e produzir e reproduzir sempre todo tipo de vida, começou a reagir e contra-atacar: pelo aquecimento global, pela erosão da biodiversidade, pela desertificação crescente, pelos eventos extremos e pelo envio de suas armas letais que são os vírus e bactérias (gripe suína, aviária, H1N1, zika, chikungunya, SARS, ebola e outros) e agora a covid-19, invisível e letal. Colocou a todos de joelhos, especialmente as potências militaristas cujas armas de destruição em massa (que poderiam destruir toda a vida, várias vezes) se mostraram totalmente supérfluas e ridículas. Agora passamos do capitalismo do desastre para o capitalismo do caos,como diz a crítica do sistema capitalista Naomi Klein. Leonardo Boff

Conforme o autor, essa reação da Terra está diretamente ligada ao modo como nós, seres humanos, temos usufruído das matérias primas limitadas que nosso planeta oferece. Ele ainda relaciona esse modo de consumo, com o capitalismo e como coisas inalienáveis que se tornam mercadoria, trabalho e exploração neste modo de vida. Boff levanta a ideia que o capitalismo quebra com todas as relações que o homem tem com a natureza e que a política econômica do capitalismo primeiro preza em salvar os lucros. O que ainda podemos observar e que o próprio autor também ressalta é a falta da solidariedade, da cooperação, da interdependência entre todos, da generosidade e o cuidado mútuo pela vida de uns e de outros. 


Chegamos ao ponto ao qual surgiram as críticas realizadas por Boff. Ele se baseia em resultados de cientistas para escrever sobre o retorno das atividades, se voltariam as produções em massa, para recuperar o tempo perdido. Porém, conforme aponta o autor, muitos cientistas dizem que caso esse retorno aconteça, pode ser que estejamos a continuar possibilitando epidemias cada vez mais frequentes e letais. Causas já conhecidas, como mutações, destruição de habitats naturais, produção intensa de animais confinados, tráfico e comércio de animais silvestres, bem como resistência a antibióticos, extinção de espécies especialistas por uso de agrotóxicos e remédios nocivos que temos submetido ao solo, ao ar, ao meio ambiente em geral, que em pouco tempo não consegue se “curar” e produzir no próprio tempo, o que seria necessário para nossa manutenção da vida.


Conforme o professor aponta, há cinco alternativas que estão postas para adaptar a humanidade após a pandemia do novo coronavírus, como a continuidade do capitalismo neoliberal, o capitalismo verde, o comunismo de terceira geração, o ecossocialismo ou o Bem-viver e conviver das comunidades andinas. Dessas alternativas, a mais viável para uma transição ecológica viável e verdadeira seria o ecossocialismo. “Essa alternativa supõe um contrato social mundial com um centro plural de governança para resolver os problemas globais da humanidade. Os bens e serviços naturais seriam equitativamente distribuídos a todos, num consumo decente e sóbrio que incluiria também toda a comunidade de vida. Esta alternativa estaria dentro das possibilidades humanas, desde que superasse o sociocentrismo e incorporasse os dados da nova cosmologia e biologia, que consideram a Terra como momento do grande processo cosmogênico, biogênico e antropogênico.” Escreve Boff.

Não será a austeridade que vai resolver os problemas sociais que têm beneficiados ao já ricos, e penalizado os mais pobres. A solução se deriva da justiça social e distributiva, onde todos participam do ônus e do bônus da ordem social. Leonardo Boff

O Professor sugere que para conseguirmos alcançar a transição ecológica bem sucedida precisamos mudar nossos hábitos para dar continuidade a nossa vida, na Casa Comum [a Terra]. 

Com uma convivência respeitosa para com a natureza e um cuidado com todos os ecossistemas. Devem gerar na base social outro nível de consciência e novos sujeitos sociais, portadores desta alternativa. Para isso, cabe enfatizar, devemos passar por um processo de descolonização de visões de mundo e de ideias inculcadas pela cultura do capital. Devemos ser anti-sistema e alternativos. Leonardo Boff

Boff pressupõe e vê como uma solução a renovação do contrato natural e uni-lo ao contrato social, de forma que a sociedade seja e sinta que é parte da natureza e da Terra e assuma coletivamente a preservação de toda a vida, mantenha florestas em pé, garanta água necessária para todo tipo de vida, regenera o que foi degradado e fortalece o que já é preservado.


Ele sugere que após todas as mudanças e conscientização e efetivações sobre os cuidados com a terra, que teremos chegados então, a civilização da felicidade possível e da alegre celebração da vida. 

Brasil como uma civilização Biocentrada

Os argumentos usados pelo autor são muitos, ele dá ênfase às riquezas ecológicas, geográficas e populacionais que o país tem e ainda ressalva que são características possíveis de iniciar uma civilização biocentrada.


Para alcançarmos essa forma de viver em bem comum com todos seres vivos  Boff usa a seguinte argumentação.

Temos que retrabalhar no consciente e no inconsciente coletivo, as sombras que nos pesam fortemente: do etnocídio indígena, da colonização, da escravidão e da dominação das oligarquias, herdeiras da Casa Grande e de um governo atual anti-Brasil, anti-vida e anti-povo com traços claros de despotismo que pretende conduzir o país a fases superadas pela humanidade, ao ante iluminismo, ao mundo do atraso, avesso ao saber e aos valores civilizatórios que são já bens comuns das sociedades mundiais. Leonardo Boff

A emancipação popular proposta por Boff nos permite sonhar e, na realização do sentido comunitário, praticar a transição ecológica definitivamente, pois o capitalismo neoliberal é ineficiente para resolver ou mesmo impedir a crescente e assombrosa desigualdade social. A acumulação demasiada de riqueza em poucas mãos, à custa da exploração de milhões e milhões vivendo em condições sub-humanas, além de devastar a maioria dos ecossistemas tem colocado a Terra numa emergência ecológica e a sociedade em insegurança permanente.

Saiba mais

https://www.ecodebate.com.br/2020/06/24/a-transicao-ecologica-para-uma-sociedade-biocentrada-artigo-de-leonardo-boff/

http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597421-a-terra-se-defende-artigo-de-leonardo-boff



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